Leia as Histórias
O sonho... Tenho como destino ela, "minha escola", no primário chamava-se "Grupo Escolar Mário de Andrade", no ginásio, "Ginásio Estadual Ibrahim Nobre". Nomes diferentes para primário e ginásio, mas no mesmo prédio lá na Joaquim Nabuco, esquina com a Rua Constantino de Sousa.
Subo devagar, observando tudo ao redor, cada prédio, cada casa, cada pedra no caminho, cada buraco, e curtindo tudo que aparece à frente, subo sorrindo, estou indo ao encontro de mim mesmo, ao encontro de algo muito especial para mim. Tenho oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze, quinze anos de idade agora. Refaço meu caminho, tão conhecido, que fiz por longos, maravilhosos, oito anos de minha vida.
Chego, finalmente, lá esta ela! "Minha escola"!
Subo os degraus que me levam à secretaria e dou de cara com o busto de Mário de Andrade, ali parado me saudando! "Seja bem vinda, ainda estamos aqui, igual as suas lembranças". E logo à frente revejo a Dona Neide sentada em frente a uma mesinha, carimbando presença na pilha de carteirinhas dos alunos.
O piso continua vermelho, a sala dos professores ainda é ao lado da secretaria, sinto a presença de vários deles, uns mais marcantes, outros nem tanto, revejo mentalmente, meu primeiro diretor do primário, Professor Adalberto, e do ginásio, Professor Geraldo, ao lado vejo Prof. Ciro, Dona Laís, Dona Miriam, Maria do Carmo, Dona Yvone e outros, primário e ginásio se misturam. Eles olham para mim, mas logo abaixam as cabeças, compenetrados novamente em suas pranchetas.
Ao lado da sala de professores há ainda uma sala de aula, e depois, virando à esquerda, começa o corredor, comprido, piso vermelho, pé direito alto, com as janelas bem no alto, longe dos olhos da moçada, paredes cor de pudim de baunilha, com os batentes e portas de madeira escura. Lá está ele, cheio de portas, que dá para muitas salas na qual me sentei, dia a dia, algumas delas chamadas de "minha sala", como se realmente fossem propriedade minha, é o corredor das 7ª e 8ª séries. É nesse corredor que andei diariamente por muitos anos, aqui fui feliz. E nessas salas eu cresci. Conheci pessoas, umas passaram, outras ficaram, umas marcaram, outras nem tanto, umas tornaram-se amigos para todo sempre, outras amigos de alma, umas esqueci, outras nem quero lembrar. Nessas salas, corredores, pátios, tudo foi "o primeiro em minha vida". Aqui tudo começou...
Sigo em frente, e no fim do corredor tem uma parede revestida de madeira escura, escondendo a visão da porta da enfermaria, viro à esquerda e dou de cara com o pátio coberto, enorme, piso vermelho, bancos na lateral direita, ladeando a grande porta de vidro e ferro, que dá para o lado de fora da escola, na lateral esquerda ao centro o jardim, ao lado o bebedouro. Aqui foi o local de muitas correrias, brincadeiras, filas de entrada, ecoando o Hino Nacional, e outras músicas, que cantávamos antes de ir para as salas. Centro de todos os grandes acontecimentos de nossas vidas. Seu palco, bem no centro a minha direita, e ao lado o banheiro feminino, enorme, quantas coisas aconteceram lá! Quantas fofocas, choros, confidências, sonhos, tudo aconteceu lá dentro, no banheiro.
O palco, tão pouco usado, sempre entulhado de cadeiras e tranqueiras, mas que ali, uma única vez, subi para encenar uma peça, que fizemos em homenagem ao dia do professor, no qual um grupo de alunos imitava um professor. Coube eu imitar a Maria do Carmo, a temida professora de matemática, com seu avental cor-de-rosa, diferentes de todos os outros professores, que eram brancos. Eu me vejo lá encenando, num misto de vergonha e timidez, e embaixo todos assistindo e rindo de mim. Ontem vi como um mico que paguei, hoje vejo como um episódio impagável. Ainda bem que vivi isso.
Olho de frente ao palco e vejo do outro lado, a cantina, que no meu tempo de primário era a cozinha, e que chamávamos aquele canto de refeitório, pois havia uma mesa enorme, no qual no recreio fazíamos as nossas refeições dadas pelo Estado, chamávamos de merenda, adorava a sopa no inverno e os chocolates quentes nas sextas-feiras. Ao lado da cozinha tinha o tão misterioso banheiro masculino, onde eu desejava imensamente conhecer, mas nunca ousei entrar, de lá saía sempre um grupo de meninos aos berros e gargalhadas, com seus olhares de cumplicidade, atiçando ainda mais minha imaginação de como seria lá dentro. Nunca entrei, nunca conheci esse canto da minha escola.
Em frente é o lindo jardim, que no ginásio foi cercado, impedindo aos alunos de usá-lo, mas que no primário era aberto, e me vejo passeando de mãos dadas com uma amiga, por seus canteiros floridos, sempre bem arrumados, passeava contornando os arbustos, até chegar ao bebedouro, e aí fazia o caminho de volta, num ritual diário. Era parte de nosso recreio, passear no jardim.
Ao lado do banheiro masculino viro à direita, começava o outro corredor, idêntico ao outro, agora das salas da 5ª e 6ª séries, onde também estudei o primário. Um dia também as chamei de "minha sala", tive muitas "minhas salas".
Neste corredor, para desespero da Dona Neide e do Marião, corríamos, escorregávamos, enfim, desobedecíamos todas as regras de disciplinas. Andávamos de sala em sala, até tocar o sinal e todos correrem, cada um para sua sala, à espera da entrada do primeiro professor, com a maior cara de anjos e sorrisos marotos.
Silêncio... Passos no corredor... São os professores chegando...
No fim do corredor tinha ainda duas salas de aula, nestas ninguém gostava de chamar de "minha sala", pois era ao lado da terrível diretoria e administração da escola.
Viro à esquerda e revejo a Dona Neide ainda sentada, carimbando presença na pilha de carteirinhas dos alunos.
Havia ainda o outro prédio, mais novo, que começou a ser construído quando eu cursava o primário, e me via sonhando com o ginásio, quando eu poderia ocupar as suas novas salas, coisa que fiz logo na 5ª série, mas achei estranho, pois tínhamos então outro banheiro, outra cantina, outro pátio, e disso eu não gostei, pois amava o velho e maravilhoso pátio coberto, pois lá brinquei de tudo que foi brincadeira, queimada, barra manteiga, pular elástico, roda, e no novo pátio os alunos davam uma de mais velhos, e ali ninguém brincava, era o pátio de gente grande. Mas eu ainda sonhava com meu pátio do primário, apesar de não dar o braço a torcer, imagina ser tachada de criança, agora que já estava no ginásio, mas que quietinha ficava observando os mais novos brincarem lá, isso eu ficava.
Saio do pátio coberto, descendo seus degraus caminho pela lateral da escola, onde alguns poucos professores estacionavam seus carros, e para minha felicidade termino no portão principal, entrada e saída de alunos. Imenso.
Ao lado do portão dou de cara com o que, para mim, era o que de melhor havia na escola. A quadra! Que demorou tanto para ser construída. Antes dela, tudo era um imenso jardim, mas que, para nossa sorte, virou a "nossa quadra". Antes tínhamos as aulas de educação física, num campinho que havia perto da escola, numa travessa da Rua Joaquim Nabuco, acho que era na Rua Zacarias de Goes.
Nesta quadra participei dos jogos que mais amava, o handebol, perdi, ganhei, briguei, sorri, comemorei, desmaiei. Nela fui feliz, nela realizei muitas conquistas, principalmente pessoais. Mas para mim o maior mico que pagávamos era ter que usar o terrível short vermelho, com elástico nas pernas, que nos transformavam em bujões, usava em cima deste short uma saia branca, pregueada, o que nos transformavam em "bujões decorados". E imaginar que os meninos ficavam olhando para nós, com aquele uniforme. Um horror.
O portão era a última barreira para o mundo lá fora, o mais legal, onde éramos realmente nós mesmos. Tinha o murinho no qual ficávamos antes de dar o sinal de entrada, o Pedrão com suas pipocas e doces, as paqueras, os sorrisos nos rostos, algazarra, o ônibus do Sr. Aníbal entregando e levando alguns alunos.
O desejo... Já vi muitos filmes cujo tema é voltar no tempo, e ir ao período escolar. Fiquei pensando muitas vezes sobre isso, e realmente sempre foi meu desejo poder reviver essa época.
Tenho oito anos para escolher, vai de 1968 a 1975, penso que posso voltar somente um ano e tenho que escolher qual quero reviver, elejo, sem dúvida...
O último!
1975!
8ª série!
Meus 15 anos!
É o ano que quero reviver!
Mas essa é outra estória.
e-mail do autor: mlgfp@terra.com.br E-mail: mlgfp@terra.com.br
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Eu estudei nos anos 71,72 e 73( qdo me formei na 4ª série), lendo a história da Lurdes voltei no tempo e foi uma delicia, pois sempre me pego recordando especialmente esta época da minha vida, me lembro dos professores " Ciro, Lais, Mirian, Maria do Carmo, Yvone, o Diretor Sr.Mario e seu servente Sr.Geraldo", e os queridos amigos : Nuncio Theofilo, Maria do Carmo, Carlos, Margarida, Celeste, Marina, Eliete, e especialmente Maria Aparecida Caldeira (Cida) minha primeira namorada, que nunca esqueci, razão deste comentário, meu desejo é que um dia ela possa ler estas história e talvez, possamos relembrar juntos um pouquinho daqueles dias tão mágicos que guardo até hoje com muito carinho em meu coração.
Enviado por Jorge Francotti - francotti@terra.com.brMário de Andrade,mas trabalhei lá foi muito bom
conheci várias pessoas ali,e me indentifiquei por
incrivel que pareça com todos sem escessão,foi ótimo
Esse um ano que passei por lá,só tive momentos boms,pena que eu tive que sair de lá por motivo
pessoal,mas foi muito bom lá no Mário de Andrade... Enviado por cristina - crisamor18@hotmail.com
Achei incrível sua memória, pois na minha lembrança há apenas um amontoado de rostos, cujos nomes não recordo. Enviado por Antonio - anjoself@gmail.com